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27/03/2000 - Jornal PÚBLICO

Lisboa: Amnistia Internacional exige libertação de israelita

A secção portuguesa da Amnistia Internacional (AI) faz hoje um dia de protesto frente à embaixada israelita em Lisboa, para exigir a libertação de um ex-trabalhador da central nuclear de Dimona, preso desde 1986 por ter divulgado a existência de armas nucleares em Israel.

O ex-trabalhador do reactor israelita de Dimona, função que desempenhou entre 1977 e 1985, foi preso por ter divulgado em 1986 ao jornal inglês "Sunday Times" a existência de armamento nuclear em Israel, um facto classificado como segredo de Estado, explica a AI.

Mordechai Vanunu, de 46 anos, foi convencido, cinco dias antes da entrevista ser publicada, a viajar até Roma onde, após ser raptado por agentes dos serviços secretos de Israel (a Mossad), regressou clandestinamente ao seu país, informou a Lusa.

De acordo com a AI, depois de um julgamento à porta fechada, denunciado apenas quando Vanunu mostrou escrito na palma da mão que tinha sido raptado em Roma, o ex-trabalhador do reactor nuclear foi condenando a 18 anos de prisão, tendo cumprido os primeiros onze em regime de solitária na prisão de Ashkelon.

A secção portuguesa da AI considera "cruel, desumana e degradante" a situação de Vanunu, exigindo por isso a sua "libertação imediata e incondicional".


28/03/2000 - Diário de Notícias

Libertação imediata de Vanunu exigida em Lisboa

Grupo local da secção portuguesa da AI realizou uma acção a favor do técnico nuclear israelita preso em Askelon
Lumena Raposo

Mordechai Vanunu, o técnico nuclear israelita que se encontra na prisão de Askelon, ganhou mais uma voz para a causa da sua libertação. Aconteceu ontem durante a acção de protesto organizada pelo Gupo Local 19 (Sintra) da secção portuguesa da Amnistia Internacional (AI), junto à embaixada de Israel em Lisboa.

"O que posso fazer para ajudar?", inquiriu Odília a um dos elementos da AI que, a alguns metros da embaixada, distribuía folhetos aos transeuntes. E, sem esconder a indignação, explicou a razão da sua disponibilidade: "Nos dias de hoje, isto não faz sentido."

Ao DN, Odília, residente em Faro, disse como se sentiu chocada ao ler o conteúdo do folheto sobre Vanunu: "Parecia uma anedota ou uma história policial, mas não é, e não consigo aceitar que um homem esteja detido há tanto tempo por esta razão. Não consigo aceitar tanto sofrimento."

"Tinha uma cirurgia à miopia agendada para hoje, mas quando cheguei ao hospital disseram-me que o laser está avariado. Como não tinha nada para fazer, vim ver as montras. Foi quando me deram o folheto", conta Odília, que prometeu não ficar parada quando regressar a Faro: "Vou mobilizar todos os meus amigos e a Igreja a que pertenço."

São com "gotas de água" como esta que se formam as grandes cadeias de solidariedade. Ontem, a AI ganhou mais um elemento para a sua campanha em defesa de Vanunu.

"Desde Março de 1999 que, todos os meses, realizamos esta acção junto à embaixada: distribuímos panfletos e quando o embaixador sai ostentamos uma faixa onde exigimos a libertação incondicional e imediata de Vanunu", disse Luís Galrão da AI. No concelho de Sintra, porém, as acções são mais amplas e frequentes junto da população em geral e das escolas em particular. Para além disso, há todo um esforço por manter Vanunu em contacto com o mundo: escrevem-lhe, enviam-lhe livros e CD. Vanunu responde sempre - cartas que são censuradas: chegam esburacadas a Portugal.

Oriundo de Marrocos, onde nasceu a 13 de Outubro de 1954, Vanunu trabalhou de 1977 a 1985 no reactor nuclear de Dimona, sul de Israel. Em Setembro de 1986, o jornal britânico Sunday Times publica um artigo onde revela, com base em dados concretos fornecidos por Vanunu, que Israel possui armamento nuclear - o que Telavive sempre negara.

Cinco dias antes da publicação, Vanunu é atraído a Roma por uma agente da Mossad; é drogado e levado de barco para Israel, onde, num processo à porta fechada, o condenaram a 18 anos de prisão, 12 dos quais foram cumpridos na "solitária".