quinta-feira, 4 de março de 2004

PÚBLICO: 'Vanunu Conta o Seu Rapto pela Mossad em 1986'

O técnico israelita revelara o maior segredo do seu país, o programa nuclear

O israelita Mordehai Vanunu, que revelou em 1986 os segredos nucleares de Israel e foi depois raptado pela Mossad e condenado a 18 anos de prisão, escreveu uma carta ontem publicada no diário "Maariv" em que dá uma versão do seu rapto. Será libertado no dia 21 de Abril, ficando em regime de rigorosa vigilância.

No dia 5 de Outubro de 1986, o "Sunday Times" anunciava em manchete a revelação de um dos segredos mais bem guardados do mundo: o programa nuclear israelita. Com a ajuda de fotos e diagramas, um técnico nuclear israelita, que trabalhara na central nuclear de Dimona desde 1976, confirmava a existência de um imenso arsenal, hoje calculado em cerca de 200 bombas, e dava inúmeros pormenores técnicos. O informador era Mordehai Vanunu, 32 anos, que abandonara Dimona um ano antes, partira para Inglaterra e se convertera ao anglicanismo.

O curioso é que nessa data ele já não estava em Londres. Tinha sido raptado pela Mossad (espionagem) e levado para Israel. O jornal só publicou o trabalho depois de submeter as informações a um rigoroso inquérito junto de cientistas nucleares.

Na carta ao "Maariv", Vanunu diz que não se arrepende nem lamenta nada. Conta que, a 24 de Setembro de 1986, conheceu em Londres uma americana que seis dias depois o convenceu a ir consigo a Itália. Tomaram um voo da British Airways. Eram esperados no aeroporto de Roma por um homem, supostamente um amigo da irmã da americana, dirigindo-se para o seu apartamento nos arredores da cidade.

"Mal entrei no apartamento, dois homens agrediram-me e drogaram-me com seringas." Depois, "sob a influência de drogas fui com eles num carro, em que acordei devido a um acidente. Voltaram a agredir-me e a drogar-me." Foi conduzido até à costa italiana onde os esperava um iate.

A sua recordação seguinte é estar dentro do barco, "detido numa célula, amarrado durante sete dias à cama, até atingirmos a costa de Israel, onde fui entregue ao Shin Beth" (segurança interna). Julgado por alta traição, foi condenado a 18 anos de prisão.

Em 1988, o "Sunday Times" identificou a misteriosa americana como sendo Cheryl Bentov, uma agente da Mossad, nascida na América, com família em Orlando (Florida).

As autoridades prisionais israelitas recusaram-se a comentar o modo como Vanunu pôde fazer chegar a carta ao "Maariv".

Fonte: PÚBLICO

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