segunda-feira, 19 de abril de 2004

PÚBLICA: 'Mordechai Vanunu - O Homem Que Quebrou o Segredo Nuclear de Israel'

O deserto do Negev é metade de Israel. Uma "terra seca" que vai estreitando até fazer um vértice perfeito no Mar Vermelho. É no Negev que fica Dimona, uma pequena cidade que durante décadas cresceu à volta de um segredo. Até que a 5 de Outubro de 1986 o segredo de Dimona ocupou as três primeiras páginas do semanário britânico "The Sunday Times". "Revelação: os segredos do arsenal nuclear israelita", anunciava a manchete. Ficou a saber-se do que muitos suspeitavam mas Israel nunca admitiu: que o Estado Judaico era uma potência nuclear. Em Dimona tinham sido produzidas entre 100 a 200 ogivas, "o suficiente para destruir todo o Médio Oriente".

Para publicar o trabalho, o "Sunday Times" demorou semanas, enquanto cientistas britânicos analisavam informações e fotografias. O israelita que passara a documentação ao jornal chamava-se Mordechai Vanunu e trabalhara nove anos como técnico no Centro de Pesquisa Nuclear de Dimona, nome oficial do complexo que Israel conseguiu manter a salvo de inspecção internacional.

Quando o "Sunday Times" revelou a história, Vanunu já não estava em Londres - desaparecera. Enquanto aguardava as confirmações dos peritos, fora seduzido em Leicester Square por uma espia da Mossad (serviços secretos externos israelitas). Ela convenceu-o a voarem juntos para Roma, onde Vanunu foi raptado por outros agentes e metido num cargueiro para Israel. O rapto deu-se a 30 de Setembro, seis dias antes da manchete no "Sunday Times".

Desde então, Vanunu tem estado preso. Os primeiros 11 anos, em isolamento. Para o Estado que o julgou (à porta fechada), é um "espião", "um traidor" que "pôs em perigo a segurança do seu próprio país".

Para dezenas de milhares de pessoas que se multiplicaram em iniciativas, é um "herói pacifista", um "prisioneiro de consciência", "o primeiro refém nuclear".

Do Parlamento Europeu à Amnistia Internacional, sucederam-se, sem efeito, resoluções e campanhas apelando à libertação de Vanunu. Em 1988, um grupo de 27 cientistas, incluindo 18 Prémios Nobel da Física, Química e Medicina, publicou um abaixo-assinado apoiando Vanunu na "New York Review of Books". Dez anos depois, 600 académicos israelitas fizeram o mesmo no diário "Haaretz" e o ex-presidente americano Jimmy Carter juntou-se à causa. Vanunu foi nomeado mais de uma vez para o Prémio Nobel da Paz. O dramaturgo Harold Pinter participou em acções em Londres, a que o presidente da câmara, Ken Livingstone, se associou. A actriz Susannah York corresponde-se com o israelita e faz parte da delegação internacional que quer ir recebê-lo à saída da prisão de Ashkelon na próxima semana. Concluída a pena de 18 anos, a libertação está anunciada para quarta-feira.

O plano anunciado de Vanunu é partir para a América. "Quero levar uma vida normal fora de Israel como uma pessoa livre", disse recentemente ao seu irmão Meir. A escolha do destino estará relacionada com os pais adoptivos, Mary e Nick Eoloff - em 1997, este velho casal de pacifistas do Minnesota (EUA) conseguiu adoptar Vanunu depois de muitas diligências (esperavam dar-lhe direito de cidadania, souberam depois que isso só é possível para jovens até aos 16 anos).

Mas o mais provável é que Vanunu seja impedido de sair de Israel, para já. De acordo com o "Haaretz", não lhe vão dar um passaporte, não poderá deixar o país, e o seu telefone e comunicações de Internet serão vigiados. Referências a Dimona ou às circunstâncias do rapto podem levar a novo processo. Jornais israelitas da linha mais conservadora insinuaram que Vanunu poderia revelar ainda informação.

"Dizerem que tenho mais segredos é uma mentira e uma desculpa, e eles sabem-no bem", respondeu o prisioneiro, através do irmão Meir. "Tudo o que eu sabia já foi publicado."

Em Janeiro, o primeiro-ministro Ariel Sharon reuniu com a Defesa e as secretas para decidir o que fazer a Vanunu, no fim da pena. Segundo a imprensa israelita, o "duro" Yehiel Harev, chefe da segurança, defendeu prisão domiciliária. Concluiu-se que isso o vitimizaria mais ainda, internacionalmente. Assim, foi tomada a decisão de o libertar com "medidas adequadas de supervisão".

"Ganhei", disse Vanunu ao irmão quando soube. "Não conseguiram quebrar-me ao longo de todos estes anos. Não conseguiram levar-me à loucura."

O prisioneiro mais célebre de Israel tem agora 49 anos. Segundo a mãe adoptiva, faz 50 flexões por dia e está com o mesmo peso de quando andava na universidade, o que será um bom sinal - os colegas de Belas Artes usavam Mordechai Vanunu como modelo para nus.

A praça na infância de Vanunu era a grande Djemma al Fna, em Marraquexe, que à hora do penúltimo chamamento do "muezzin", quando o sol se põe, é uma babel entre bancas de "couscous", "kebab" e chá de menta, vendedores de água, tocadores de "oud", jogadores, fumadores e velhas serpentes, algumas educadas em cestos.

No tempo de Vanunu, árabes e judeus ainda se misturavam nesta praça. O Estado de Israel tinha apenas uma década no fim dos anos 50, e muitos judeus de Marrocos não haviam partido ainda. Vanunu era um dos 11 filhos de uma família de judeus ortodoxos, que só emigrou para o novo Estado em 1963, tinha ele nove anos.

De acordo com a investigação publicada por Yossi Melman (especialista em secretas e segurança, do "Haaretz"), ao chegar a Israel Vanunu ingressou numa escola religiosa dirigida por um ultra-ortodoxo e depois num liceu "yeshiva" (onde se estuda o Talmude). Aos 17 anos entrou para o exército, e no Corpo de Engenharia chegou a primeiro sargento. Em 1973 tentou seguir matemática e física na Universidade de Telavive, mas meteu-se a guerra do Yom Kippur, e chamaram-no.

Os pais viviam em Beersheva, a "capital" do Negev, e foi para aí que ele voltou, vendo-se sem dinheiro. Procurou emprego no Shin Bet (serviços secretos internos), mas recusaram-no. Em 1976, um amigo disse-lhe que havia um anúncio para candidatos ao Centro Nuclear de Dimona. Passou todos os testes, fez um juramento de silêncio, como todos, e ficou. Até Junho de 1977 deram-lhe formação em física nuclear, urânio e radioactividade e depois começou a trabalhar - no "mais sagrado entre os sagrados da religião de segurança de Israel", segundo a fórmula de Melman.

Numa extensa análise (disponível em www.au.af.mil/au/awc/awcgate/cpc-pubs/farr.htm), o coronel americano Warner D. Farr usa um título semelhante para contar a história do nuclear em Israel: "O terceiro templo sagrado entre os sagrados: as armas nucleares de Israel".

Remetendo para mais de 170 fontes militares, políticas, jornalísticas, históricas, e usando outras não classificadas, Farr conta a origem de Dimona. A pesquisa para um programa nuclear em Israel começou praticamente com a fundação do Estado. O seu "pai" foi Shimon Peres. E teve um impulso notável depois da crise do Canal do Suez, em 1956. Como "agradecimento" pela intervenção israelita no Suez, a França construiu um reactor nuclear em Dimona capaz de produzir plutónio em larga escala. Os Estados Unidos descobriram em 1958.

Num documentário que em 2003 fez para a BBC sobre o "caso" Vanunu, a jornalista Olenka Frenkiel conta que em 1961 John Kennedy quis saber o que se passava em Dimona e uma equipa de inspecção americana foi enviada. Tornou-se uma lenda na Central a perícia com que Israel lhes passou a perna. O acesso aos seis andares subterrâneos onde o plutónio era separado foi tapado com tijolos.

Quando Frenkiel, no documentário, questionou Peres sobre o ludíbrio de 61, o ex-primeiro ministro israelita irritou-se: "Não tenho de responder às suas perguntas."

Depois de Kennedy, a atitude da Casa Branca em relação às armas de destruição maciça em Israel foi de camaradagem no silêncio - oficialmente, Israel não confirma nem desmente, e encontrou uma expressão para isto, "ambiguidade nuclear".

Em Dimona, boa parte das funções do técnico de supervisão Vanunu, de turno das 23h30 às 8h00, aconteciam no Instituto 2, onde as armas nucleares eram de facto feitas, conta Melman. O recém-contratado ficou assim a par do que acontecia no suposto Centro de Pesquisa.

Passava muitas horas sozinho. Decidiu aproveitá-las a ler. Em 1980, comprou um apartamento perto da Universidade Ben Gurion do Negev, decidiu inscrever-se em filosofia e geografia e começou a escrever um diário.

Leituras: Aristóteles, Espinoza, Kant, Descartes, Kierkegaard, Nietzsche, Sartre - recorda o seu irmão Meir, segundo o qual a visão política de Vanunu começou a ser moldada na universidade. Se anos antes estivera próximo da extrema-direita, ia caminhando cada vez mais para a esquerda.

Na associação de estudantes, juntou-se ao Campus, um movimento que defendia os direitos dos árabes, mais tarde propôs-se para a organização de estudantes comunistas, fez declarações anti-armas nucleares e participou em manifestações contra a guerra do Líbano. Em 1982, chamaram-no para o combate. Não quis servir no Corpo de Engenharia - serviu na cozinha. No regresso à universidade, diz Melman, ganhou fama de "radical e excêntrico". Além de posar nu para os colegas de Belas Artes, foi fotografado a dançar nu em festas.

Estas revelações chegaram ao responsável pela segurança de Dimona e depois ao Shin Bet e à Defesa. Vanunu começou a ser vigiado. Terão posto a hipótese de o contratar como informador - uma forma de controlo. Interrogaram-no sobre amigos, movimentos e que contava ele do trabalho em Dimona. Nada, terá garantido Vanunu.

Não é claro se recusou ser informador; se concordou, dando informações consideradas infiáveis; ou se a proposta nem chegou a ser feita.

No Verão de 1985, os responsáveis pela segurança de Dimona anunciaram-lhe que ia ser transferido do Instituto 2. Ele não quis e terá dito que estava disposto a ser despedido. O contrato acabou em Outubro.

Em Dezembro, Vanunu vendeu a casa, o carro e comprou um bilhete de ida para Banguecoque.

Levou consigo dois rolos de fotografias que tirara em Dimona.

Ei-lo no Oriente. Tailândia, Birmânia, Nepal, Austrália. Em Sidney, converte-se ao cristianismo - é baptizado numa pequena igreja anglicana - e conhece um jornalista colombiano, Oscar Guerrero, a quem fala de Dimona e das fotografias. Guerrero convence-o a ir aos jornais. De acordo com Melman, tentaram primeiro a imprensa australiana e a "Newsweek", que aparentemente duvidaram de Vanunu.

O "Sunday Times" soube do rumor e enviou o jornalista Peter Hounam a Sidney entrevistar o israelita. Entre a recolha de informação e o exame dos cientistas a que o jornal recorreu, a história também chegou ao "Sunday Mirror", de Robert Maxwell - magnata com ligações à Mossad.

Segundo o jornalista Robert Fisk, do "Independent", Maxwell passou os dados sobre Vanunu aos israelitas.

A 28 de Setembro de 1986, uma semana antes da manchete do "Sunday Times", o "Sunday Mirror" dá notícia da história de Vanunu como se ela fosse um embuste. Nessa altura já a Mossad estava a postos para o rapto.

Vanunu esperava em Londres a publicação no "Sunday Times". Ao vaguear na Leicester Square, conheceu uma loura de caracóis rebeldes, "esteticista" americana em turismo. Ela pareceu gostar dele e ele estava angustiado (é assim que a mãe adoptiva de Vanunu resume as coisas). Ela convenceu-o a voarem para Roma, onde a irmã tinha um apartamento, e ele aceitou. Ela era uma espia com nome de boneca, "Cindy", mas ele só percebeu isso em Roma, quando em vez da tal irmã apareceram agentes da Mossad.

Drogado e metido num cargueiro a caminho de Israel, Vanunu ficou desaparecido para o mundo. Só depois, quando estava ser levado num carro prisional para o julgamento, conseguiu escrever na palma da mão - e comprimi-la contra o vidro, deixando a inscrição feita - que fora raptado em Roma pela Mossad, e quando: 30.09.86.

"Cindy" chamava-se Cheryl Hanin Bentov. Em 1997, o "Sunday Times" foi investigar o que era feito dela. Tinha 37 anos, vivia ao pé da Disneylândia (Orlando, Florida), como cidadã americana, vendedora de time-sharings, com duas filhas, um descapotável vermelho e um marido ex-major dos serviços secretos israelitas. É difícil imaginar a espia que seduzira o mais cobiçado "traidor" de Israel a vender aldeamentos turísticos a casais reformados. "Conhecidos em Israel" referidos pelo jornal indicavam que Cindy-Cheryl poderia estar na Florida o serviço da Mossad - dada a proximidade do Centro Espacial John Kennedy? Yossi Melman exclui esta hipótese. Ainda espia ou ex-espia, nas vésperas da entrevista combinada com o "Sunday Times", Cheryl desapareceu.

Mas voltemos a 86, à "cacha" do "Sunday Times" com as informações de Vanunu. O que revelara afinal o israelita?

"Um programa nuclear sofisticado, de até 200 bombas, com armas enriquecidas, bombas de neutrões, ogivas para F16 e ogivas Jericó", sintetiza o coronel Farr, na sua análise. "As armas enriquecidas exibidas nas fotografias de Vanunu mostram uma sofisticação que implica a exigência de testes. Ele revelou pela primeira vez a instalação subterrânea para a separação de plutónio, onde Israel produzia 40 quilos anualmente, várias vezes mais do que nas estimativas feitas anteriormente. As fotografias mostram planos sofisticados que os peritos científicos dizem que permitem aos isrealitas construir bombas com apenas quatro quilos de plutónio. Estes factos aumentam as estimativas quanto ao total de armas nucleares de Israel."

Peter Hounam, o autor do trabalho no "Sunday Times" - que depois veio a escrever dois livros sobre o caso -, recordou em 1998 o que motivara Vanunu a denunciar Dimona: "Era um dissidente clássico, motivado em parte pela forma como fora despedido, mas sobretudo pela convicção de que o seu país tomara um caminho insano."

"Para que querem todas estas bombas? Planeiam combater com elas e destruir o Médio Oriente?" Eram estas as questões que inquietavam Vanunu, segundo Hounam. "Ele estava muitas vezes sozinho. Sabia que o plutónio era transformado em partes de bombas, o que significava que o último passo fora dado. Estavam a fazer armas termo-nucleares capazes de destruir uma cidade."

No documentário de Frenkiel na BBC, em 2003, Hounam sublinhou que Vanunu revelara ao mundo o desenvolvimento de entre 100 e 200 bombas nucleares em Israel, o "suficiente para destruir todo o Médio Oriente, e ninguém fez nada desde então".

Quando em 1999 o jornal "Yediot Ahronot" publicou excertos do julgamento, o testemunho do próprio Vanunu ficou disponível: "Queria confirmar o que toda a gente sabia. Queria que o assunto passasse a estar devidamente vigiado. Agora [o então primeiro-ministro isrealita] Peres já não pode mentir [ao então Presidente americano] Reagan e dizer que nós não temos armas nucleares."

Naturalmente, para Peres, Vanunu é um traidor: "As revelações causaram sérios danos a Israel e a sua publicação levou alguns países árabes a endurecerem a sua posição, para nossa desvantagem."

Como escreveu recentemente o "Haaretz", é em parte por causa de Vanunu que se considera hoje Israel a sexta maior potência nuclear do mundo.

Nos primeiros 11 anos de prisão, isolado numa cela de dois metros por três, Vanunu nunca sabia quando era dia ou noite. Não via os outros prisioneiros, não tinha acesso a jornais ou TV e quando era autorizada a visita de familiares, do advogado ou do padre (os únicos com acesso), havia sempre uma porta de ferro entre ele e eles. Uma prisão "cruel, inumana, degradante", disse a Amnistia Internacional.

Em 1998, saiu do isolamento. Ficou com mais espaço para fazer ginástica, escrever poemas e ler filosofia (um jornalista de visita à cadeia avistou-o a ler Nietzsche). Os pais adoptivos visitaram-no a cada ano (os pais biológicos renegaram-no, como não-judeu).

Ao contrário de Marcus Klinberg - um dos responsáveis pela fábrica de armas biológicas Nes Tzione, que passou segredos à URSS em 1983 -, Vanunu nunca aceitou negociar menos tempo de prisão em troca de silêncio.

A comparação entre ambos, de resto, é duvidosa. Klinberg não fez revelações em público. Passou secretamente informações a um país estrangeiro, que certamente teria a sua agenda.

Mas em Israel, Vanunu foi apresentado à população como um "traidor", não-arrependido e não-cooperante.

Recentemente, o irmão de Vanunu e jornais como o "Independent" e o "Al-Ahram" aludiram a uma campanha nos media conservadores israelitas contra Vanunu. O "Yediot Ahronot" citou um antigo prisioneiro de Ashkelon dizendo que Vanunu festejava cada bombista suicida e ainda tinha material para revelar. Sem fonte explícita, Vanunu foi citado como tendo dito: "Não me importo que Israel desapareça amanhã."

Segundo o "Al-Ahram, o comentador israelita Dan Margalit sugeriu mesmo que Vanunu fosse assassinado. Fontes do Shin Bet aparecem a insinuar que o ex-técnico de Dimona pode ser raptado pelo Hezzbollah, por exemplo, e revelar, ou inventar informação. Outras fontes alertam para o risco de Vanunu denunciar nomes de ex-colegas ou o esquema de segurança da central, dados que Vanunu recusou ao "Sunday Times", para não pôr em risco ninguém. Peter Hanoum diz que o verdadeiro receio de Israel é que Vanunu conte pormenores do rapto ou reacenda atenções sobre o arsenal nuclear, o que também seria embaraçoso para os EUA.

A propósito deste embaraço e da política de "ambiguidade nuclear", Yehuda Melzer escreveu no "Haaretz" que os americanos não queriam mais inspecções no Iraque com medo das armas que não havia, e não querem inspecções em Israel com medo das armas que há.

O jornalista Raanan Shaked ironizou no canal 10 israelita: "Quem é a grande ameaça a Israel? Claro, Mordechai Vanunu. Ele é o grande perigo, a democracia israelita simplesmente não suporta o impacto deste homem a dizer o que qualquer criança sabe: nós temos armas nucleares."

Alexandra Lucas Coelho
Domingo, 18 de Abril de 2004
In http://jornal.publico.pt/2004/04/18/Publica/TM03.html

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