sábado, 27 de novembro de 2004

PÚBLICO: '«No princípio, tinha medo que me matassem, agora não sinto medo algum»'

Em 1986 quebrou o "tabu" nuclear de Israel, revelou que o Estado judaico possuía 200 ogivas, "o suficiente para destruir todo o Médio Oriente". Foi raptado e preso por Israel. Esteve 18 anos e meio na cadeia. Agora, sem passaporte, sem licença para deixar Israel ou falar com estrangeiros, espera um país que lhe dê asilo. Pode ser Portugal. Da nossa enviada Alexandra Lucas Coelho, em Jerusalém

Em Abril, quando terminou os seus 18 anos e meio de prisão, o israelita Mordechai Vanunu procurou "um lugar cristão" para viver, enquanto não lhe davam asilo no estrangeiro. A igreja anglicana de Saint Georges, em Jerusalém Oriental, que tem uma residencial com um belo jardim, acolheu-o. Aqui, o mais célebre ex-prisioneiro de Israel não paga estadia e vive das ajudas que recebe de apoiantes em todo o mundo.

Esta entrevista foi feita num hotel de Jerusalém Oriental faz amanhã uma semana, o primeiro dia em que Vanunu pôde sair à rua depois de uma semana de prisão domiciliária. Uma hora roubada a um longo serão com amigos estrangeiros. Aos 49 anos, o homem que quebrou o "tabu" nuclear de Israel aparenta boa forma física. Não fuma, praticamente não comeu, bebeu vinho tinto e ouviu mais do que falou, enquanto esteve à mesa. Está em constante alerta, olhando à volta, a cada ruído. Pouco antes da meia-noite, despediu-se e fez sozinho os dez minutos a pé até Saint Georges.

Por que é que, apesar das proibições, continua a falar com a imprensa e com estrangeiros?
Concluí que a forma de sair de Israel é exercer a liberdade de expressão. Ao falar, demonstro a Israel que não tenho mais segredos, além do que foi publicado há 18 anos. Tudo o que faço é falar das minhas visões políticas e do que aconteceu na prisão.

Desde que saiu do seu cativeiro, que esforços fez para tentar sair de Israel?
Como não posso ir às embaixadas, através de amigos pedi asilo a muitos Estados: Noruega, Dinamarca, Suécia, Irlanda, França, Canadá, Reino Unido, EUA... Continuo à espera que algum decida intervir e peça a minha libertação. Deviam fazê-lo. Não nos devemos esquecer que Israel pediu a muitos Estados para ajudar os judeus que estavam na Rússia, durante a Guerra Fria.

Até agora não recebeu qualquer resposta?
Não recebi qualquer resposta positiva.

Tem interlocutores em Israel? Gente com quem mantenha diálogo, dentro ou fora dos partidos políticos, no campo da paz, alguém com quem falar?
Tenho alguns, muito poucos, amigos que são contra a política nuclear de Israel, vêm visitar-me. Mas não têm poder. Os palestinianos apoiam-me. Mas do lado israelita, ninguém de qualquer partido me apoia.

Para onde gostaria de ir, se pudesse escolher?
Gostaria de ir à Europa e aos Estados Unidos, viajar. Tenho muitos amigos apoiantes em vários países.

Nos EUA, a ideia é ficar com os seus pais adoptivos, no Minnesota?
Sim. E com amigos. Ir a universidades, ensinar História, falar sobre a paz, movimentos anti-nucleares. Escrever o meu livro. É o meu futuro.

É uma autobiografia?
Sim, para que o mundo conheça a minha história.

Já está a escrevê-lo?
Ainda não, porque a Shabak [ou Shin Bet, serviços secretos internos de Israel] pode confiscá-lo, usá-lo contra mim, para me impedir de sair de Israel. Quero escrevê-lo e publicá-lo quando deixar este país.

O que é que o levou a revelar o arsenal nuclear israelita?
Chamar a atenção do mundo para o que Israel estava a fazer: tinha cerca de 200 bombas atómicas. O meu objectivo era prevenir uma guerra nuclear no Médio Oriente, e impor a Israel que fizesse a paz com os árabes, com os palestinianos. Depois da Guerra Fria, foi um pouco o que aconteceu, Israel começou a negociar com Arafat, houve os Acordos de Oslo [1993]. Nada resultou destas iniciativas. A situação ainda é muito má. Mas uma coisa foi conseguida: Israel não pode usar as bombas atómicas. Era o que eu queria.

Vem de uma família de judeus ortodoxos, em criança estudou numa escola religiosa, trabalhou na central nuclear de Dimona. Quando é que começou a olhar as coisas de uma forma diferente? Como é que chegou a esse momento em que se decidiu pela denúncia?
Antes de Dimona, nunca estive envolvido politicamente, na direita ou na esquerda. Aos 18, 19 anos comecei a criticar as políticas religiosas, judaicas, de Israel, mas não expressava as minhas convicções políticas. Fui trabalhar para Dimona porque precisava de um emprego. Ao fim de um, dois anos, apercebi-me do que estavam a fazer ali. E durante os bombardeamentos israelitas na Guerra do Líbano, em 1982 comecei a ser crítico em relação a Israel. Estava simultaneamente a estudar geografia e filosofia na universidade, e fui desenvolvendo as minhas ideias políticas. Tornei-me cada vez mais crítico. Envolvi-me em política na universidade, a cooperar com os palestinianos, isto à volta de 1983. Ao longo dos nove anos em Dimona tomei consciência deste sistema israelita de engano e mentira numa matéria tão sensível como armas atómicas.

E de repente houve um dia em que decidiu que não queria trabalhar mais ali?
Não. Decidi dois ou três anos antes de deixar Dimona que sairia de Israel e publicaria o que eles estavam a esconder.

Foi por isso que entretanto tirou fotografias e notas?
Sim, para as publicar. Os serviços secretos sabiam que eu estava envolvido em política, com os palestinianos, e chamaram-me algumas vezes para me interrogar. Prometi parar, mas continuei a falar com palestinianos. Tentaram demitir-me. E ao fim de alguns meses, demiti-me. Acabara os meus estudos, não tinha nada a fazer em Israel. Vendi a minha casa, tudo.

E foi para o Extremo Oriente.
Sim, ia a caminho dos Estados Unidos e queria ver o Extremo Oriente.

Onde se converteu ao cristianismo.
Quando cheguei à Áustrália, decidi começar uma vida nova, e parte dessa vida nova era converter-me ao cristianismo.

De onde é que isso tinha nascido?
Desde o fim da adolescência que eu rejeitara ser judeu. Queria libertar-me do judaísmo. Quando estudei filosofia na universidade, essa rejeição continuou.

Falou em libertar-se do judaísmo. O que é que isso significa? O que é que encontrou no cristianismo?
Na fé judaica, não basta rejeitarmos ser judeus. Se não nos convertemos a outra fé, continuamos a ser judeus, ainda que não sejamos crentes e praticantes. Portanto, a forma de me libertar era converter-me a outra fé.

Converteu-se só por isso?
E também para conhecer o cristianismo. Entendê-lo por dentro. Depois gostei muito. Gostei muito da vida e do caminho de Jesus como ser humano na Terra. Ele representa as mesmas questões que eu tenho em relação ao judaísmo. Revi os meus sentimentos nele. E depois na prisão, ao ler, aprendi muito mais sobre a fé cristã.

Na Austrália conhecia alguém? Como foi parar à igreja onde se converteu?
Não conhecia ninguém. Simplesmente entrei numa igreja em Sidney. Comecei a ir a essa igreja anglicana onde as pessoas iam ao domingo rezar. Gostei e decidi baptizar-me.

Quanto tempo passou lá?
Cheguei em Maio, fui baptizado em Agosto. Em Setembro comecei a dar a história ao "Sunday Times", fui para Londres, continuar a fazê-lo. E depois fui raptado.

O que é que aconteceu ao certo em Londres quando conheceu a mulher que o raptou, Cheryl?
Isso foi o que alguns jornalistas escreveram, mas o nome verdadeiro dela era mesmo Cindy. Não era uma espia judia, uma agente da Mossad. Era apenas uma agente dos EUA, talvez da CIA ou do FBI.

Como é que está certo disso?
Estive com ela durante uma semana, falámos, passámos muito tempo juntos. O jornalista do "Sunday Times" Peter Hounan [autor do trabalho de 1986, com as revelações sobre o arsenal de Israel] foi enganado, convencido a encontrar essa mulher e escrever sobre ela.

Então Cindy não é a mesma que o "Sunday Times" foi encontrar na Florida a vender "time sharings", com o nome de Cheryl?
Não. O nome dela é Cindy. De Filadélfia. Americana, não judia. A trabalhar com a CIA ou outra organização que cooperava com Israel.

Quando deu a entrevista ao "Sunday Times", tinha consciência de que algo lhe podia acontecer, ou não? Não receava que Israel o capturasse?
Sim, sabia que iam tentar apanhar-me, raptar-me, matar-me. Mas eu sentia que tinha a obrigação de dizer ao mundo o que se passava.

Entre dar a entrevista e ela ser publicada, tentou esconder-se?
O que aconteceu foi que o "Sunday Times" prometeu publicar a história no domingo seguinte. Mas durante três semanas adiaram a publicação. Pensei que talvez a Mossad me estivesse a vigiar, a seguir. E que deveria sair de Londres até a história ser publicada. Então conheci esta mulher Cindy...

Em Leicester Square. Como era ela?
Jovem, simples, aparência agradável. Não percebia muito de política. Disse que me queria ajudar, contei-lhe que me queria esconder...

Confiou completamente nela.
Sim. Também já não havia nada de secreto, porque o "Sunday Times" tinha ido à embaixada israelita com as informações, com as fotos, para tentar obter uma reacção.

Cindy persuadiu-o a ir com ela para Roma, onde supostamente tinha uma irmã. O que é que aconteceu quando chegaram?
Havia um italiano à nossa espera, com um carro, no aeroporto. Disse que era um amigo da irmã dela. Levou-nos para uma casa num subúrbio de Roma. Mal entrei, atacaram-me. Dois homens atiraram-me ao chão, uma mulher injectou-me uma droga e perdi a consciência. Mais tarde, injectaram-me outra vez. Deram-me roupas, e sob o efeito dessa droga levaram-me para o carro. Tinha consciência do que se passava, mas não tinha controlo, não conseguia fazer nada. Conseguia ver e ouvir.

E Cindy?
Desaparecera. Havia dois homens, um israelita, outro francês, e uma mulher israelita. No caminho, despertei e tentei saltar, parar o condutor, mas bateram-me e drogaram-me outra vez. Ao fim de uma hora chegámos a uma praia abandonada. Levaram-me para um pequeno barco militar, onde passei sete dias, desde a praia até Israel.

Como eram as condições no barco?
Estava num pequeno quarto, com as mãos e os pés presos à cama. Perguntei: "Quem são vocês?" Responderam: "Somos franceses, britânicos e israelitas." Ao fim de sete dias chegámos a Israel e a Shabak estava à minha espera na praia. Levaram-me de carro para a prisão de Ashkelon. Começaram a interrogar-me.

A história de ter escrito na sua mão informações sobre o rapto, e de ter comprimido a mão contra o vidro do carro em que estava a ser levado, aconteceu quando?
Na prisão tinham-me dito para não falar do rapto. E não permitiam aos jornalistas falar comigo. Então decidi dar a informação assim, comprimi-la contra a janela do carro que me levava ao tribunal. E os jornalistas tiraram fotos.

O que escreveu?
Que me tinham raptado em Roma. Que chegara a Roma na British Airways, voo 504, a 30 de Setembro. Porque ninguém sabia o que acontecera.

Na prisão, o que é que o ajudou a sobreviver?
Decidi que não os ia deixar mudar a minha mente, a minha fé, as minhas ideias. Podiam manter-me na prisão, mas o meu espírito era livre, estava nas minhas mãos. Portanto, combati-os protegendo as minhas crenças, mantendo o meu espírito livre.

Como fez isso?
Praticando a minha fé cristã, rezando, pedindo para ver um padre, lendo, ouvindo música, escrevendo cartas, só para provar que era livre.

Nos primeiros 11 anos esteve isolado.
Em total isolamento numa pequena cela de dois metros por três. Durante dois anos, mantiveram a luz acesa durante 24 horas e uma câmara ligada. Não usaram força física contra mim. Fizeram-me uma guerra psicológica, cruel, perturbando-me o sono, atrasando o meu correio, enviando gente que dizia o que lhe apetecesse.

Quando foi libertado, qual o seu primeiro pensamento? Onde é que queria ir?
Depois de 18 anos e meio, acreditava que me iam deixar sair de Israel e viver a minha liberdade, que já bastava de castigo. Mas depois disseram que eu não poderia deixar Israel nem falar a estrangeiros durante um ano. Isso foi muito duro. Os serviços secretos continuam a punir-me.

Teme pela sua vida?
Não, ultrapassei esse medo quando estava na prisão. No princípio tinha medo que me matassem, que nunca mais me deixassem sair. Mas depois decidi ser forte e não temer nada. Agora não sinto medo algum, mas tenho consciência de que podem fazer-me o que quiserem, têm esse poder.

Sente-se sozinho?
Não, tenho muitos amigos, activistas da paz de todo o mundo, da Europa, dos Estados Unidos, do Japão, da Austrália. Apoiaram-me durante a prisão e depois.

Mas no seu dia-a-dia, quem é que tem de próximo?
Não tenho alguém muito próximo. Os amigos são pessoas que vêm e vão.

E a sua família? Os seus irmãos?
A minha família são judeus ortodoxos, portanto não tenho qualquer relação com eles. Apenas com três dos meus irmãos, um é-me próximo, esteve comigo em Saint Georges, com os outros dois estou em contacto telefónico. A minha família verdadeira são os pacifistas que me apoiam.


UM APELO A PORTUGAL

"Quero agradecer aos muitos portugueses que me escreviam quando eu estava na prisão. Havia um grupo chamado Amnistia Internacional 19, de Lisboa. Se querem ajudar-me agora, podem pedir asilo para mim em Portugal. Estou a pedir asilo em muitos países, qualquer Estado que me ajude a sair de Israel seria bem-vindo. Espero que Portugal tenha a coragem e a capacidade para um acto assim. É uma boa notícia que Portugal agora tenha Barroso como líder na União Europeia. Penso que os pequenos Estados têm poder, sentido de justiça e consciência para trabalhar por novas ideias na Europa, para corrigir os erros das velhas superpotências. A Inglaterra fez um grande erro ao estabelecer um Estado judaico na terra palestiniana. França ajudou Israel dando-lhe um reactor nuclear para produzir bombas atómicas. A Alemanha deu-lhe muito poder, dinheiro. Talvez os novos Estados, de Portugal à Polónia, possam fazer muito mais pelos palestinianos, e talvez também pelo meu caso. Visitei toda a Europa, mas não Portugal, e ficaria feliz de ver Lisboa, um dia. Tão cedo quanto possível"
Mordechai Vanunu

In http://jornal.publico.pt/2004/11/26/Mundo/I07.html


A HISTÓRIA DE UM CASO CÉLEBRE

Mordechai Vanunu tornou-se um "caso" internacional no Outono de 1986. Depois de dar ao jornal britânico "Sunday Times" provas de como Israel possuía 200 ogivas nucleares, "o suficiente para destruir todo o Médio Oriente", foi seduzido em Londres por uma espia que se apresentou como "Cindy" e o levou para Roma, onde agentes ao serviço da Mossad o raptaram e levaram para Israel.

Acusado como "traidor" que pusera "em causa a segurança do seu próprio país", foi julgado à porta fechada e condenado. Sucederam-se, em vão, campanhas pedindo a liberdade do "primeiro refém nuclear", de um herói da causa pacifista. Um casal idoso do Minnesota, Estados Unidos, adoptou-o.

Como é que Vanunu - um dos 11 filhos de judeus ortodoxos emigrados de Marrocos para Israel, era ele criança - tomara conhecimento das informações sobre o arsenal? Trabalhando nove anos na central nuclear de Dimona (no deserto do Negev). Um posto modesto, mas com acesso suficiente ao que durante décadas fora escondido às inspecções internacionais.

Cumpridos os 18 anos, Vanunu viu-se livre, mas sem passaporte e sem licença para deixar Israel, falar com estrangeiros ou dar entrevistas, por um ano. Mas, na sua "casa" de Saint Georges, tem recebido visitas de apoiantes internacionais e deu entrevistas. Quando a morte de Arafat foi anunciada, "estava na sala de pequeno-almoço, com amigos, pelas nove da manhã", quando o pátio da igreja foi invadido. "Vimos duas motas a entrar, com dois homens cada, de roupa e capacetes negros. Saltaram, com armas automáticas, e depois chegaram três ou quatro carros da polícia, com agentes armados, aí uns 15. Pensei: 'Andam atrás de alguns palestinianos.'" Mas era mesmo com ele.

"No meu quarto, revistaram tudo, tiraram-me o computador, papéis, CD, DVD, puseram tudo numa caixa e levaram-me para uma esquadra. Disseram-me que era suspeito de não respeitar as proibições de Israel, e acusaram-me de revelar segredos", conta.

Vanunu diz que o mandado de detenção que lhe mostraram tinha data de 19 de Outubro, prova de que "tudo foi montado" para o prenderem nesse dia em que as atenções estavam voltadas para a Muqata, em Ramallah. Levado a um juiz, reafirmou que não tinha mais segredos além dos que revelara em 1986; ficou uma semana em prisão domiciliária.

In http://jornal.publico.pt/2004/11/26/Mundo/I07CX01.html


"Israel Não É Uma Verdadeira Democracia"

Vanunu não acusa só Israel de ser um Estado-apartheid - diz que os judeus não estão preparados para um país secular e democrático.

Que solução defende para o conflito israelo-palestiniano?
A solução é muito simples: que Israel e o mundo respeitem os palestinianos como seres humanos com direitos iguais em Israel.

Em Israel?
Em Israel ou na Palestina. Num único novo Estado que seria para judeus e palestinianos. O que temos neste momento é um Estado-apartheid para os judeus, onde os palestinianos não têm direitos e estão sob ocupação há muitos anos. Israel não é uma verdadeira democracia, qualquer pessoa pode ver isso. Conseguiu fazer uma lavagem ao cérebro aos EUA e outros Estados ocidentais no sentido de acreditarem que era uma democracia, mas de facto não é. O futuro deve ser o estabelecimento de uma verdadeira democracia pelo povo, judeus e palestinianos.

Está a falar de um Estado que significará o fim do sonho sionista, de um Estado judaico, porque muito em breve os árabes serão a maioria. Está a falar do fim de Israel.
O sonho sionista acabou quando um Estado judaico foi fundado em 1948. Os judeus podem continuar a vir para cá. O que precisamos agora é que os palestinianos regressem, os refugiados que vivem em campos há 50 anos.

Essa não é uma perspectiva muito realista. Mesmo figuras empenhadas na paz, dos dois lados, lutam por uma solução de dois Estados. Como poderá o mundo apoiar uma solução como a que defende?
O mundo deve apoiar uma solução de verdadeira democracia. De outra forma, independentemente de Israel, não será uma solução real. A paz real é através de um Estado secular para todos. Se continuarem com este Estado sionista, de apartheid, o conflito continuará. Não é um problema que venha dos palestinianos. Os judeus é que não estão preparados para um Estado secular e democrático.

Sexta-feira, 26 de Novembro de 2004
In http://jornal.publico.pt/2004/11/26/Mundo/I07CX02.html

sábado, 13 de novembro de 2004

Vanunu em prisão domiciliária

O tribunal israelita de Petah Tikva decretou sete dias de prisão domiciliária a Mordechai Vanunu. Durante esse tempo Vanunu não poderá contactar nenhuma das pessoas alvo da investigação em curso. Embora lhe tenha devolvido os telemóveis, a polícia israelita mantém em seu poder o computador portátil de Vanunu.

sexta-feira, 12 de novembro de 2004

PÚBLICO: 'Acusado de ter transmitido informações aos media estrangeiros Israel: "espião nuclear" Mordechai Vanunu foi detido outra vez'

A polícia israelita deteve hoje em Jerusalém o "espião nuclear" Mordechai Vanunu, libertado em Abril, depois de 18 anos de cativeiro. Vanunu, que revelou ao mundo os segredos nucleares de Israel, é agora acusado de ter transmitido "informações secretas a estrangeiros" e de ter violado as restrições que lhe foram impostas pelos serviços de segurança israelitas depois da sua libertação, avança a AFP.

O antigo funcionário do Estado israelita, de 50 anos, foi condenado em 1986 a 18 anos de prisão por traição e espionagem depois de ter transmitido ao jornal londrino "Sunday Times" informações sobre a central nuclear de Dimona (sul de Israel), onde trabalhava.

Depois de ter sido colocado em liberdade, foi proibido de falar com os media estrangeiros e de viajar para fora de Israel num período de um ano. O ex-detido estava ainda obrigado a revelar à polícia as suas deslocações dentro do país.

O Supremo Tribunal israelita rejeitou, no dia 26 de Julho, um recurso de Vanunu contra estas medidas. Depois da sua libertação, Vanunu afirmou várias vezes que queria deixar Israel. "Em Israel não sou livre", disse recentemente à BBC. "A única maneira de sentir e gozar a liberdade e avançar para uma nova vida (...) será quando deixar Israel e puder viver nos Estados Unidos, na Europa ou em Londres", disse.

PÚBLICO.PT/Internacional

Vanunu detido novamente

Mordechai Vanunu foi detido esta manhã em Jerusalém por cerca de 30 a 50 agentes da polícia israelita fortemente armados. Vanunu foi detido na Igreja de St. George, o local onde vivia desde a sua libertação, em Abril. O seu quarto foi revistado, tendo a polícia confiscado apontamentos e um computador. Vanunu é alegadamente acusado de divulgar informação confidencial. [notícia na BBC e no Jerusalem Post]

domingo, 30 de maio de 2004

PÚBLICO: Entrevista à BBC: Vanunu diz ter revelado segredos nucleares de Israel para evitar "novo holocausto"

Mordechai Vanunu, o “espião nuclear” israelita recentemente libertado da prisão, afirma ter revelado pormenores confidenciais do programa militar israelita para salvar o seu país de um “novo holocausto”. Vanunu deu a primeira entrevista desde que saiu da cadeia à BBC.

“Acho que não foi traição. Tratou-se de uma denúncia. Tratou-se de salvar Israel de um novo holocausto”, disse Vanunu na entrevista que vai para o ar amanhã à noite.

O antigo técnico da central nuclear de Dimona, no sul de Israel, agora com 50 anos, saiu da prisão no dia 21 de Abril, depois de 18 anos de cativeiro por ter revelado ao jornal britânico “Sunday Times” a existência de um programa nuclear secreto do Estado hebreu.

”O que eu fiz foi informar o mundo daquilo que se estava a fazer em segredo. Eu não disse: ‘é preciso destruir Israel, é preciso destruir Dimona’. Eu disse: ‘vejam o que eles [Israel] estão a fazer e façam os vossos julgamentos’”, disse Vanunu à BBC.

Mordechai Vanunu, que se converteu ao cristianismo nos anos 80, reafirmou, como já o tinha feito à saída da prisão, que não se arrepende de nada e diz que, apesar da pena ter sido “pesada”, “valeu a pena”. “Acho que não merecia aquela punição”, acrescentou manifestando a sua intenção de deixar Israel. Uma vontade que pode ser difícil de concretizar tendo em conta as rigorosas restrições que lhe foram impostas à saída da prisão, que incluem a proibição, renovável, de viajar durante um ano.

“Acreditamos que ele ainda sabe outros segredos e não queremos que ele os venda outra vez”, disse à BBC o vice-primeiro-ministro israelita e ministro da Justiça, Joseph Lapid.

PÚBLICO.PT/Internacional

sexta-feira, 23 de abril de 2004

PÚBLICO: '«Mais do que nunca temos de estar atentos a este caso»'

Para a Amnistia Internacional, o "caso Vanunu" não terminou com a libertação do prisioneiro. Luís Galrão, activista do Grupo 19 da AI que acompanha o prisioneiro israelita há quase dez anos, diz que é agora altura de lutar pelo levantamento das restrições a que o antigo técnico da central nuclear de Dimona foi sujeito - e zelar pela sua segurança.

O grupo 19 da AI "adoptou" Vanunu e para além das várias campanhas, começou a tentar estabelecer contacto por carta: "Foi difícil nos primeiros anos... Israel tinha uma política de atrasar correspondência. Mas as cartas foram chegando e ele lá foi respondendo", conta Galrão. "Além disso, vinham censuradas: apareciam cortadas a x-acto, e via-se que antes uma palavra teria sido sublinhada com uma caneta fluorescente."

No início, conta o activista da AI, Vanunu questionava a utilidade da troca de correspondência com activistas de um país insignificante. "Houve uma altura em que ele não nos queria dar muita atenção por sermos um pequeno país da cauda da Europa, mas acabou por saber da nossa integração na Comunidade Europeia, não se tinha dado conta disso em 1986, e começou a achar que poderíamos ajudar", continua Luís Galrão.

A Amnistia continuava entretanto a fazer várias acções de apoio ao prisioneiro, muitas à porta da representação diplomática de Israel em Lisboa. "Acabámos por ter umas conversas engraçadas com os seguranças israelitas da embaixada, com quem discutimos o caso: um achava que ele devia estar preso, outro que devia ser libertado, o terceiro considerava que não devia falar, pois estava em serviço.

In PÚBLICO

PÚBLICO: 'Vanunu Pede Inspecções Internacionais à Central Nuclear Israelita'

O técnico da central nuclear de Dimona Mordechai Vanunu, que revelou ao "Sunday Times" segredos do poder atómico israelita, foi ontem libertado depois de 18 anos de prisão, 11 dos quais em regime de isolamento, por espionagem agravada.

Fazendo sinais de vitória ao sair da prisão de Ashkelon, Vanunu, 49 anos, pediu uma visita de inspectores nucleares internacionais a Dimona e voltou a expressar à sua oposição à posse de armas atómicas por parte do Estado hebraico. "Israel não necessita de armas nucleares, especialmente não agora num Médio Oriente sem armas nucleares", afirmou aos jornalistas presentes.

Referindo-se ao tratamento "cruel e bárbaro" que sofreu na prisão, Mordechai Vanunu afirmou ainda que "o Shin Beth, a Mossad, não me conseguiram quebrar, não me conseguiram enlouquecer.

In PÚBLICO

quinta-feira, 22 de abril de 2004

PÚBLICO: 'Mordechai Vanunu libertado depois de 18 anos de reclusão'

Mordechai Vanunu, o homem que revelou ao mundo os segredos nucleares de Israel, foi hoje libertado da prisão de Shikma, Askhelon (sul de Israel), depois de 18 anos de reclusão.

No decorrer de uma conferência de imprensa improvisada à saída do cárcere, e apesar de várias tentativas dos agentes que o rodeavam para interromper as suas declarações, Vanunu afirmou-se "orgulhoso e contente" por ter revelado os segredos nucleares de Israel e disse que o Estado hebreu "não precisa de armamento nuclear".

Estas são as primeiras declarações públicas de Mordechai Vanunu, depois de ter sido raptado em Roma pela Mossad (serviços secretos israelitas) e levado num cargueiro para a prisão em Israel. Até à manchete do "Sunday Times" de 5 de Outubro de 1986, pouco ou nada se sabia do poderio nuclear israelita. Telavive deu sempre respostas evasivas afirmando que não foi o primeiro produzir ogivas nucleares na região.

À saída da prisão Vanunu, que aparentava boa forma física, acenou e dirigiu-se ao grupo de apoiantes que o esperava no exterior da prisão. Prendeu-se nas grades de um portão e fez sinais de vitória com um ar triunfante.

Odiado pela maioria dos israelitas que o consideram um traidor, mas olhado no estrangeiro como um mártir da causa anti-nuclear, Vanunu foi brindado com flores por uns e apupos por outros. "Morte ao espião, morte a Vanunu", proclamava um cartaz enquanto um israelita gritava: "tu não és judeu! Tu não tens o direito de estar aqui!".

Vanunu, actualmente com 50 anos, converteu-se ao cristianismo na Austrália e mudou o nome para John Crossman. Falando quase sempre em inglês no decorrer de uma atribulada conversa com os jornalistas que o esperavam no exterior, Vanunu apelou ao Governo israelita para abrir o reactor nuclear de Dimona aos inspectores internacionais. "A minha mensagem ao mundo é: abram a central nuclear de Dimona às inspecções".

No meio de uma chuva de perguntas dos jornalistas, Vanunu garantiu que "não tem mais segredos" e que agora quer retomar a sua vida. O antigo técnico de supervisão do Instituto 2 do complexo de Dimona pretende ir para os Estados Unidos, mas Israel não o deve deixar sair do país, pelo menos a curto prazo. O diário israelita "Haaretz" não lhe vão dar passaporte e o seu telefone e comunicações na Internet serão vigiados.

No meio de vários apelos dos agentes que o rodeavam para interromper a conferência, Vanunu denunciou as condições em que estava detido na prisão de Shikma classificando-as como "crueis e bárbaras". "Sofri porque sou cristão, só porque sou cristão", afirmou.

"A todos os que me chamam de traidor, digo-lhes que estou orgulhoso e contente por ter feito o que fiz". Vanunu afirmou que quando sair da prisão quer ir à igreja de S. Jorge, situada na parte Este de Jerusalém, uma deslocação que significa uma violação das restrições impostas à sua liberdade de movimentos.

AFP, PUBLICO.PT
PÚBLICO.PT/Internacional 21-04-2004

As fotos da libertação

Vanunu libertado mas ainda sem liberdade!

No âmbito do trabalho desenvolvido pelo Grupo 19 ao longo dos últimos 8 anos em prol da libertação de Mordechai Vanunu, o grupo realizou uma vigília nas imediações da Embaixada de Israel em Lisboa, para comemorar a libertação de Mordechai Vanunu, 6413 dias depois de ter sido raptado a 30/09/1986.

Apesar do momento ser de regozijo, o trabalho do Grupo 19 continua, porquanto Israel retirou o passaporte a Vanunu e pretende impedi-lo de viajar para fora do país, o que constitui uma violação flagrante dos seus direitos mais fundamentais, não apenas porque já cumpriu a sentença a que foi condenado, como porque a justificação apresentada - ele poder revelar mais segredos - é absolutamente desprovida de sentido, dado que tudo o que pudesse saber já se encontra absolutamente desactualizado... há 18 anos!

Na realidade, Israel pretende evitar que ele revele pormenores sobre o rapto de que foi alvo em Itália, o seu julgamento secreto e outras graves irregularidades que embaraçam as autoridades.

quarta-feira, 21 de abril de 2004

BBC: 'Israel libertará 'espião nuclear' após 18 anos'

Guila Flint de Tel Aviv

Mordechai Vanunu, conhecido como "o espião nuclear" em Israel, será libertado nesta quarta-feira, depois de 18 anos de prisão.

Apesar da libertação, o governo de Israel impôs uma série de restrições a Vanunu, como a impossibilidade de ter um passaporte e de se aproximar de aeroportos e portos ou de conversar com estrangeiros sem autorização.

"Mordechai Vanunu revelou segredos de Estado sobre a planta nuclear de Dimona. Ele ainda possui segredos de Estado, incluindo alguns que ele ainda não revelou", justificou o governo israelense em um comunicado.

Israel também afirmou que poderia ter imposto restrições mais duras e que a duração das medidas dependerá do seu comportamento.

Fotografias

Vanunu, de 49 anos, trabalhou como técnico no Centro de Pesquisas Nucleares de Dimona, de 1976 a 1985.

Durante o último ano de trabalho no local mais secreto do país, ele começou a fotografar as instalações e a registrar dados sobre as atividades realizadas em Dimona.

Em 1986, Vanunu entregou ao jornalista Peter Hounam, do jornal britânico The Sunday Times, as informações que havia colhido em Dimona.

No dia 5 de outubro do mesmo ano, o The Sunday Times publicou com grande destaque os segredos nucleares israelenses, quebrando, assim, o principal tabu de Israel, que vem mantendo, há dezenas de anos, uma política de ambigüidade em relação ao seu potencial nuclear.

Poucos dias depois da publicação, Vanunu foi preso pelos serviços de inteligência de Israel (Mossad) em Roma e levado a Israel.

Acusado de espionagem e traição, ele foi condenado a 18 anos de prisão, 11 deles passados em total isolamento, em prisão solitária.

Pacifistas

Para a maioria dos israelenses, Mordechai Vanunu é um traidor que causou um grande dano ao Estado. Para uma pequena minoria, de grupos pacifistas e organizações de direitos humanos, Vanunu é um herói, um idealista que prestou um grande serviço à sociedade israelense, revelando informações que o público tem o direito de saber.

Yael Lotan, escritora e jornalista israelense de 68 anos, faz parte dessa minoria. Lotan é uma das fundadoras do comitê pela libertação de Mordechai Vanunu e por um Oriente Médio livre de armas nucleares, biológicas e químicas.

Em uma conversa com a BBC Brasil, a escritora defendeu o "espião nuclear" e analisou a razão do tratamento severo que ele recebeu das autoridades israelenses.

"O que amedronta o poder em Israel não são os segredos de Vanunu, mas sim sua consciência", disse Lotan. "É sabido que o pior pesadelo daqueles que perderam a consciência é a pessoa que manteve a dela".

De acordo com Yael Lotan, "em todos os países que possuem armamentos nucleares (Estados Unidos, Rússia, China, Grã-Bretanha e França), o público foi informado da presença dessas armas, e só em Israel esse tema sempre foi mantido em segredo".

Lotan expressou sua preocupação com o potencial nuclear de Israel e disse que "as autoridades não forneceram as informações sobre as armas que
existem aqui, e essas armas são perigosas para nós, os cidadãos do país, para
nossos vizinhos e para o mundo inteiro".

Yael Lotan também expressou admiração por Vanunu, que ela considera um herói. "De todas as pessoas que trabalharam em Dimona, só Vanunu teve a coragem de publicar as informações. Para mim, ele é um herói, exatamente como o americano Daniel Ellsberg, que, no auge da guerra do Vietnã, revelou os documentos do Pentágono e assim contribuiu para por fim àquela guerra".

Lotan também manifestou sua revolta com a dura sentença à qual Vanunu foi condenado e disse que "Ellsberg não foi preso mesmo por um dia".

De acordo com a escritora, depois da libertação de Vanunu, o comitê vai continuar lutando "por um Oriente Médio livre de armas nucleares, químicas e biológicas".

Ehud Yatom, membro do parlamento pelo partido Likud e integrante da comissão parlamentar para assuntos de segurança, disse ao canal 2 da TV israelense que "Mordechai Vanunu é uma bomba-relógio que vai ameaçar a segurança do Estado de Israel quando sair da prisão".

"Vanunu sabe segredos que ainda não revelou e vai fazer uso da primeira oportunidade para revelá-los, pois ele é um traidor e sua meta é prejudicar os interesses de Israel", disse.

"Israel tem todo o direito de impor restrições à liberdade de Vanunu para proteger a segurança do Estado", acrescentou.

Segundo o cientista Uzi Even, da Universidade de Tel Aviv, Vanunu não pode, mesmo se quiser, ameaçar a seguranca de Israel, pois ele trabalhou em Dimona há 20 anos e desde então houve grandes mudanças e avanços tecnológicos.

Assim, segundo ele, as informações que Vanunu colheu há 20 anos já não são mais relevantes.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2004/04/040420_guila.shtml

terça-feira, 20 de abril de 2004

Amnesty International urges the Israeli authorities not to impose any restrictions or conditions on former nuclear technician Mordechai Vanunu upon his release on Wednesday after 18 years in jail

PRESS RELEASE: AI Index: MDE 15/041/2004 (Public)
Embargo Date: 19 April 2004 00:01 GMT

"Mordechai Vanunu should be allowed to exercise his rights to freedom of movement, association and expression in Israel and should be allowed to leave the country if he wishes," said Amnesty International. "His release is long overdue and Israel must not continue to violate his fundamental human rights once he is released from prison."

Vanunu, who worked as a technician at Israel's Dimona nuclear facility from 1976 to 1985, was sent to jail 18 years ago for exposing secrets relating to Israel's nuclear capabilities. In an interview with the UK-based Sunday Times in 1986, Vanunu revealed evidence that Israel possessed and produced nuclear weapons. Israel, which to date has refused to sign the nuclear non proliferation treaty, has never confirmed or denied the information.

Vanunu maintained that he acted out of conscience to expose Israel's policy of building nuclear weapons with no debate or authorization from its own citizens.

On 30 September 1986, Vanunu was kidnapped in Rome by agents of Mossad, Israel's secret services. He was drugged and secretly shipped to Israel. After a secret trial, he was sentenced to 18 years on charges of treason and espionage. His repeated requests for early parole were consistently rejected by the Israeli authorities. On 21 April he will have served his 18-year prison sentence in full.

In recent months Israeli officials have publicly supported and called for Vanunu to be detained beyond expiry of his sentence, or for his freedom to be restricted upon his release. Available information indicates that the Israeli authorities intend to impose heavy restrictions on Vanunu's freedom upon his release, including banning him from leaving the country, confining him to assigned residence, and denying him the right to be in contact with journalists and foreigners.

"Israel is bound by international law not to impose arbitrary restrictions on Mordechai Vanunu, including on his right to travel within the country or abroad, his right to peaceful association with others and his right to express his opinions," said Amnesty International.

Vanunu has expressed the desire to travel to the United States upon his release to be with his adoptive parents and to recover from the physical and psychological strain of 18 years in prison, mostly in solitary confinement.

Israeli officials contend that restricting Vanunu's freedom upon his release is necessary to prevent him from divulging further secrets about Israel's nuclear arsenal.

"Israel's determination to curtail Vanunu's freedom and contact with the outside world seem to be intended to prevent him from revealing details of his abduction by Israeli secret service agents 18 years ago in Rome in what was clearly an unlawful act," said Amnesty International.

Vanunu has repeatedly stated that he revealed all the information he had in 1986 and that he has no further information.

"Vanunu must not be subject to arbitrary restrictions and violations of his fundamental rights on the basis of pretexts or suspicions about that he may in the future," said Amnesty International.

Background

Article 12 of the International Covenant on Civil and Political Rights (ICCPR) [http://www.hrea.org/erc/Library/display.php?doc_id=453], which Israel has ratified and is obliged to uphold, stipulates that: "everyone lawfully within the territory of a State shall, within that territory, have the right to liberty of movement and freedom to choose his residence" and that "everyone shall be free to leave any country, including his own".

The rights to freedom of expression and association are guaranteed by Articles 19 and 21 of the same Covenant.

In http://web.amnesty.org/library/index/engmde150412004

segunda-feira, 19 de abril de 2004

PÚBLICA: 'Mordechai Vanunu - O Homem Que Quebrou o Segredo Nuclear de Israel'

O deserto do Negev é metade de Israel. Uma "terra seca" que vai estreitando até fazer um vértice perfeito no Mar Vermelho. É no Negev que fica Dimona, uma pequena cidade que durante décadas cresceu à volta de um segredo. Até que a 5 de Outubro de 1986 o segredo de Dimona ocupou as três primeiras páginas do semanário britânico "The Sunday Times". "Revelação: os segredos do arsenal nuclear israelita", anunciava a manchete. Ficou a saber-se do que muitos suspeitavam mas Israel nunca admitiu: que o Estado Judaico era uma potência nuclear. Em Dimona tinham sido produzidas entre 100 a 200 ogivas, "o suficiente para destruir todo o Médio Oriente".

Para publicar o trabalho, o "Sunday Times" demorou semanas, enquanto cientistas britânicos analisavam informações e fotografias. O israelita que passara a documentação ao jornal chamava-se Mordechai Vanunu e trabalhara nove anos como técnico no Centro de Pesquisa Nuclear de Dimona, nome oficial do complexo que Israel conseguiu manter a salvo de inspecção internacional.

Quando o "Sunday Times" revelou a história, Vanunu já não estava em Londres - desaparecera. Enquanto aguardava as confirmações dos peritos, fora seduzido em Leicester Square por uma espia da Mossad (serviços secretos externos israelitas). Ela convenceu-o a voarem juntos para Roma, onde Vanunu foi raptado por outros agentes e metido num cargueiro para Israel. O rapto deu-se a 30 de Setembro, seis dias antes da manchete no "Sunday Times".

Desde então, Vanunu tem estado preso. Os primeiros 11 anos, em isolamento. Para o Estado que o julgou (à porta fechada), é um "espião", "um traidor" que "pôs em perigo a segurança do seu próprio país".

Para dezenas de milhares de pessoas que se multiplicaram em iniciativas, é um "herói pacifista", um "prisioneiro de consciência", "o primeiro refém nuclear".

Do Parlamento Europeu à Amnistia Internacional, sucederam-se, sem efeito, resoluções e campanhas apelando à libertação de Vanunu. Em 1988, um grupo de 27 cientistas, incluindo 18 Prémios Nobel da Física, Química e Medicina, publicou um abaixo-assinado apoiando Vanunu na "New York Review of Books". Dez anos depois, 600 académicos israelitas fizeram o mesmo no diário "Haaretz" e o ex-presidente americano Jimmy Carter juntou-se à causa. Vanunu foi nomeado mais de uma vez para o Prémio Nobel da Paz. O dramaturgo Harold Pinter participou em acções em Londres, a que o presidente da câmara, Ken Livingstone, se associou. A actriz Susannah York corresponde-se com o israelita e faz parte da delegação internacional que quer ir recebê-lo à saída da prisão de Ashkelon na próxima semana. Concluída a pena de 18 anos, a libertação está anunciada para quarta-feira.

O plano anunciado de Vanunu é partir para a América. "Quero levar uma vida normal fora de Israel como uma pessoa livre", disse recentemente ao seu irmão Meir. A escolha do destino estará relacionada com os pais adoptivos, Mary e Nick Eoloff - em 1997, este velho casal de pacifistas do Minnesota (EUA) conseguiu adoptar Vanunu depois de muitas diligências (esperavam dar-lhe direito de cidadania, souberam depois que isso só é possível para jovens até aos 16 anos).

Mas o mais provável é que Vanunu seja impedido de sair de Israel, para já. De acordo com o "Haaretz", não lhe vão dar um passaporte, não poderá deixar o país, e o seu telefone e comunicações de Internet serão vigiados. Referências a Dimona ou às circunstâncias do rapto podem levar a novo processo. Jornais israelitas da linha mais conservadora insinuaram que Vanunu poderia revelar ainda informação.

"Dizerem que tenho mais segredos é uma mentira e uma desculpa, e eles sabem-no bem", respondeu o prisioneiro, através do irmão Meir. "Tudo o que eu sabia já foi publicado."

Em Janeiro, o primeiro-ministro Ariel Sharon reuniu com a Defesa e as secretas para decidir o que fazer a Vanunu, no fim da pena. Segundo a imprensa israelita, o "duro" Yehiel Harev, chefe da segurança, defendeu prisão domiciliária. Concluiu-se que isso o vitimizaria mais ainda, internacionalmente. Assim, foi tomada a decisão de o libertar com "medidas adequadas de supervisão".

"Ganhei", disse Vanunu ao irmão quando soube. "Não conseguiram quebrar-me ao longo de todos estes anos. Não conseguiram levar-me à loucura."

O prisioneiro mais célebre de Israel tem agora 49 anos. Segundo a mãe adoptiva, faz 50 flexões por dia e está com o mesmo peso de quando andava na universidade, o que será um bom sinal - os colegas de Belas Artes usavam Mordechai Vanunu como modelo para nus.

A praça na infância de Vanunu era a grande Djemma al Fna, em Marraquexe, que à hora do penúltimo chamamento do "muezzin", quando o sol se põe, é uma babel entre bancas de "couscous", "kebab" e chá de menta, vendedores de água, tocadores de "oud", jogadores, fumadores e velhas serpentes, algumas educadas em cestos.

No tempo de Vanunu, árabes e judeus ainda se misturavam nesta praça. O Estado de Israel tinha apenas uma década no fim dos anos 50, e muitos judeus de Marrocos não haviam partido ainda. Vanunu era um dos 11 filhos de uma família de judeus ortodoxos, que só emigrou para o novo Estado em 1963, tinha ele nove anos.

De acordo com a investigação publicada por Yossi Melman (especialista em secretas e segurança, do "Haaretz"), ao chegar a Israel Vanunu ingressou numa escola religiosa dirigida por um ultra-ortodoxo e depois num liceu "yeshiva" (onde se estuda o Talmude). Aos 17 anos entrou para o exército, e no Corpo de Engenharia chegou a primeiro sargento. Em 1973 tentou seguir matemática e física na Universidade de Telavive, mas meteu-se a guerra do Yom Kippur, e chamaram-no.

Os pais viviam em Beersheva, a "capital" do Negev, e foi para aí que ele voltou, vendo-se sem dinheiro. Procurou emprego no Shin Bet (serviços secretos internos), mas recusaram-no. Em 1976, um amigo disse-lhe que havia um anúncio para candidatos ao Centro Nuclear de Dimona. Passou todos os testes, fez um juramento de silêncio, como todos, e ficou. Até Junho de 1977 deram-lhe formação em física nuclear, urânio e radioactividade e depois começou a trabalhar - no "mais sagrado entre os sagrados da religião de segurança de Israel", segundo a fórmula de Melman.

Numa extensa análise (disponível em www.au.af.mil/au/awc/awcgate/cpc-pubs/farr.htm), o coronel americano Warner D. Farr usa um título semelhante para contar a história do nuclear em Israel: "O terceiro templo sagrado entre os sagrados: as armas nucleares de Israel".

Remetendo para mais de 170 fontes militares, políticas, jornalísticas, históricas, e usando outras não classificadas, Farr conta a origem de Dimona. A pesquisa para um programa nuclear em Israel começou praticamente com a fundação do Estado. O seu "pai" foi Shimon Peres. E teve um impulso notável depois da crise do Canal do Suez, em 1956. Como "agradecimento" pela intervenção israelita no Suez, a França construiu um reactor nuclear em Dimona capaz de produzir plutónio em larga escala. Os Estados Unidos descobriram em 1958.

Num documentário que em 2003 fez para a BBC sobre o "caso" Vanunu, a jornalista Olenka Frenkiel conta que em 1961 John Kennedy quis saber o que se passava em Dimona e uma equipa de inspecção americana foi enviada. Tornou-se uma lenda na Central a perícia com que Israel lhes passou a perna. O acesso aos seis andares subterrâneos onde o plutónio era separado foi tapado com tijolos.

Quando Frenkiel, no documentário, questionou Peres sobre o ludíbrio de 61, o ex-primeiro ministro israelita irritou-se: "Não tenho de responder às suas perguntas."

Depois de Kennedy, a atitude da Casa Branca em relação às armas de destruição maciça em Israel foi de camaradagem no silêncio - oficialmente, Israel não confirma nem desmente, e encontrou uma expressão para isto, "ambiguidade nuclear".

Em Dimona, boa parte das funções do técnico de supervisão Vanunu, de turno das 23h30 às 8h00, aconteciam no Instituto 2, onde as armas nucleares eram de facto feitas, conta Melman. O recém-contratado ficou assim a par do que acontecia no suposto Centro de Pesquisa.

Passava muitas horas sozinho. Decidiu aproveitá-las a ler. Em 1980, comprou um apartamento perto da Universidade Ben Gurion do Negev, decidiu inscrever-se em filosofia e geografia e começou a escrever um diário.

Leituras: Aristóteles, Espinoza, Kant, Descartes, Kierkegaard, Nietzsche, Sartre - recorda o seu irmão Meir, segundo o qual a visão política de Vanunu começou a ser moldada na universidade. Se anos antes estivera próximo da extrema-direita, ia caminhando cada vez mais para a esquerda.

Na associação de estudantes, juntou-se ao Campus, um movimento que defendia os direitos dos árabes, mais tarde propôs-se para a organização de estudantes comunistas, fez declarações anti-armas nucleares e participou em manifestações contra a guerra do Líbano. Em 1982, chamaram-no para o combate. Não quis servir no Corpo de Engenharia - serviu na cozinha. No regresso à universidade, diz Melman, ganhou fama de "radical e excêntrico". Além de posar nu para os colegas de Belas Artes, foi fotografado a dançar nu em festas.

Estas revelações chegaram ao responsável pela segurança de Dimona e depois ao Shin Bet e à Defesa. Vanunu começou a ser vigiado. Terão posto a hipótese de o contratar como informador - uma forma de controlo. Interrogaram-no sobre amigos, movimentos e que contava ele do trabalho em Dimona. Nada, terá garantido Vanunu.

Não é claro se recusou ser informador; se concordou, dando informações consideradas infiáveis; ou se a proposta nem chegou a ser feita.

No Verão de 1985, os responsáveis pela segurança de Dimona anunciaram-lhe que ia ser transferido do Instituto 2. Ele não quis e terá dito que estava disposto a ser despedido. O contrato acabou em Outubro.

Em Dezembro, Vanunu vendeu a casa, o carro e comprou um bilhete de ida para Banguecoque.

Levou consigo dois rolos de fotografias que tirara em Dimona.

Ei-lo no Oriente. Tailândia, Birmânia, Nepal, Austrália. Em Sidney, converte-se ao cristianismo - é baptizado numa pequena igreja anglicana - e conhece um jornalista colombiano, Oscar Guerrero, a quem fala de Dimona e das fotografias. Guerrero convence-o a ir aos jornais. De acordo com Melman, tentaram primeiro a imprensa australiana e a "Newsweek", que aparentemente duvidaram de Vanunu.

O "Sunday Times" soube do rumor e enviou o jornalista Peter Hounam a Sidney entrevistar o israelita. Entre a recolha de informação e o exame dos cientistas a que o jornal recorreu, a história também chegou ao "Sunday Mirror", de Robert Maxwell - magnata com ligações à Mossad.

Segundo o jornalista Robert Fisk, do "Independent", Maxwell passou os dados sobre Vanunu aos israelitas.

A 28 de Setembro de 1986, uma semana antes da manchete do "Sunday Times", o "Sunday Mirror" dá notícia da história de Vanunu como se ela fosse um embuste. Nessa altura já a Mossad estava a postos para o rapto.

Vanunu esperava em Londres a publicação no "Sunday Times". Ao vaguear na Leicester Square, conheceu uma loura de caracóis rebeldes, "esteticista" americana em turismo. Ela pareceu gostar dele e ele estava angustiado (é assim que a mãe adoptiva de Vanunu resume as coisas). Ela convenceu-o a voarem para Roma, onde a irmã tinha um apartamento, e ele aceitou. Ela era uma espia com nome de boneca, "Cindy", mas ele só percebeu isso em Roma, quando em vez da tal irmã apareceram agentes da Mossad.

Drogado e metido num cargueiro a caminho de Israel, Vanunu ficou desaparecido para o mundo. Só depois, quando estava ser levado num carro prisional para o julgamento, conseguiu escrever na palma da mão - e comprimi-la contra o vidro, deixando a inscrição feita - que fora raptado em Roma pela Mossad, e quando: 30.09.86.

"Cindy" chamava-se Cheryl Hanin Bentov. Em 1997, o "Sunday Times" foi investigar o que era feito dela. Tinha 37 anos, vivia ao pé da Disneylândia (Orlando, Florida), como cidadã americana, vendedora de time-sharings, com duas filhas, um descapotável vermelho e um marido ex-major dos serviços secretos israelitas. É difícil imaginar a espia que seduzira o mais cobiçado "traidor" de Israel a vender aldeamentos turísticos a casais reformados. "Conhecidos em Israel" referidos pelo jornal indicavam que Cindy-Cheryl poderia estar na Florida o serviço da Mossad - dada a proximidade do Centro Espacial John Kennedy? Yossi Melman exclui esta hipótese. Ainda espia ou ex-espia, nas vésperas da entrevista combinada com o "Sunday Times", Cheryl desapareceu.

Mas voltemos a 86, à "cacha" do "Sunday Times" com as informações de Vanunu. O que revelara afinal o israelita?

"Um programa nuclear sofisticado, de até 200 bombas, com armas enriquecidas, bombas de neutrões, ogivas para F16 e ogivas Jericó", sintetiza o coronel Farr, na sua análise. "As armas enriquecidas exibidas nas fotografias de Vanunu mostram uma sofisticação que implica a exigência de testes. Ele revelou pela primeira vez a instalação subterrânea para a separação de plutónio, onde Israel produzia 40 quilos anualmente, várias vezes mais do que nas estimativas feitas anteriormente. As fotografias mostram planos sofisticados que os peritos científicos dizem que permitem aos isrealitas construir bombas com apenas quatro quilos de plutónio. Estes factos aumentam as estimativas quanto ao total de armas nucleares de Israel."

Peter Hounam, o autor do trabalho no "Sunday Times" - que depois veio a escrever dois livros sobre o caso -, recordou em 1998 o que motivara Vanunu a denunciar Dimona: "Era um dissidente clássico, motivado em parte pela forma como fora despedido, mas sobretudo pela convicção de que o seu país tomara um caminho insano."

"Para que querem todas estas bombas? Planeiam combater com elas e destruir o Médio Oriente?" Eram estas as questões que inquietavam Vanunu, segundo Hounam. "Ele estava muitas vezes sozinho. Sabia que o plutónio era transformado em partes de bombas, o que significava que o último passo fora dado. Estavam a fazer armas termo-nucleares capazes de destruir uma cidade."

No documentário de Frenkiel na BBC, em 2003, Hounam sublinhou que Vanunu revelara ao mundo o desenvolvimento de entre 100 e 200 bombas nucleares em Israel, o "suficiente para destruir todo o Médio Oriente, e ninguém fez nada desde então".

Quando em 1999 o jornal "Yediot Ahronot" publicou excertos do julgamento, o testemunho do próprio Vanunu ficou disponível: "Queria confirmar o que toda a gente sabia. Queria que o assunto passasse a estar devidamente vigiado. Agora [o então primeiro-ministro isrealita] Peres já não pode mentir [ao então Presidente americano] Reagan e dizer que nós não temos armas nucleares."

Naturalmente, para Peres, Vanunu é um traidor: "As revelações causaram sérios danos a Israel e a sua publicação levou alguns países árabes a endurecerem a sua posição, para nossa desvantagem."

Como escreveu recentemente o "Haaretz", é em parte por causa de Vanunu que se considera hoje Israel a sexta maior potência nuclear do mundo.

Nos primeiros 11 anos de prisão, isolado numa cela de dois metros por três, Vanunu nunca sabia quando era dia ou noite. Não via os outros prisioneiros, não tinha acesso a jornais ou TV e quando era autorizada a visita de familiares, do advogado ou do padre (os únicos com acesso), havia sempre uma porta de ferro entre ele e eles. Uma prisão "cruel, inumana, degradante", disse a Amnistia Internacional.

Em 1998, saiu do isolamento. Ficou com mais espaço para fazer ginástica, escrever poemas e ler filosofia (um jornalista de visita à cadeia avistou-o a ler Nietzsche). Os pais adoptivos visitaram-no a cada ano (os pais biológicos renegaram-no, como não-judeu).

Ao contrário de Marcus Klinberg - um dos responsáveis pela fábrica de armas biológicas Nes Tzione, que passou segredos à URSS em 1983 -, Vanunu nunca aceitou negociar menos tempo de prisão em troca de silêncio.

A comparação entre ambos, de resto, é duvidosa. Klinberg não fez revelações em público. Passou secretamente informações a um país estrangeiro, que certamente teria a sua agenda.

Mas em Israel, Vanunu foi apresentado à população como um "traidor", não-arrependido e não-cooperante.

Recentemente, o irmão de Vanunu e jornais como o "Independent" e o "Al-Ahram" aludiram a uma campanha nos media conservadores israelitas contra Vanunu. O "Yediot Ahronot" citou um antigo prisioneiro de Ashkelon dizendo que Vanunu festejava cada bombista suicida e ainda tinha material para revelar. Sem fonte explícita, Vanunu foi citado como tendo dito: "Não me importo que Israel desapareça amanhã."

Segundo o "Al-Ahram, o comentador israelita Dan Margalit sugeriu mesmo que Vanunu fosse assassinado. Fontes do Shin Bet aparecem a insinuar que o ex-técnico de Dimona pode ser raptado pelo Hezzbollah, por exemplo, e revelar, ou inventar informação. Outras fontes alertam para o risco de Vanunu denunciar nomes de ex-colegas ou o esquema de segurança da central, dados que Vanunu recusou ao "Sunday Times", para não pôr em risco ninguém. Peter Hanoum diz que o verdadeiro receio de Israel é que Vanunu conte pormenores do rapto ou reacenda atenções sobre o arsenal nuclear, o que também seria embaraçoso para os EUA.

A propósito deste embaraço e da política de "ambiguidade nuclear", Yehuda Melzer escreveu no "Haaretz" que os americanos não queriam mais inspecções no Iraque com medo das armas que não havia, e não querem inspecções em Israel com medo das armas que há.

O jornalista Raanan Shaked ironizou no canal 10 israelita: "Quem é a grande ameaça a Israel? Claro, Mordechai Vanunu. Ele é o grande perigo, a democracia israelita simplesmente não suporta o impacto deste homem a dizer o que qualquer criança sabe: nós temos armas nucleares."

Alexandra Lucas Coelho
Domingo, 18 de Abril de 2004
In http://jornal.publico.pt/2004/04/18/Publica/TM03.html

quinta-feira, 4 de março de 2004

PÚBLICO: 'Vanunu Conta o Seu Rapto pela Mossad em 1986'

O técnico israelita revelara o maior segredo do seu país, o programa nuclear

O israelita Mordehai Vanunu, que revelou em 1986 os segredos nucleares de Israel e foi depois raptado pela Mossad e condenado a 18 anos de prisão, escreveu uma carta ontem publicada no diário "Maariv" em que dá uma versão do seu rapto. Será libertado no dia 21 de Abril, ficando em regime de rigorosa vigilância.

No dia 5 de Outubro de 1986, o "Sunday Times" anunciava em manchete a revelação de um dos segredos mais bem guardados do mundo: o programa nuclear israelita. Com a ajuda de fotos e diagramas, um técnico nuclear israelita, que trabalhara na central nuclear de Dimona desde 1976, confirmava a existência de um imenso arsenal, hoje calculado em cerca de 200 bombas, e dava inúmeros pormenores técnicos. O informador era Mordehai Vanunu, 32 anos, que abandonara Dimona um ano antes, partira para Inglaterra e se convertera ao anglicanismo.

O curioso é que nessa data ele já não estava em Londres. Tinha sido raptado pela Mossad (espionagem) e levado para Israel. O jornal só publicou o trabalho depois de submeter as informações a um rigoroso inquérito junto de cientistas nucleares.

Na carta ao "Maariv", Vanunu diz que não se arrepende nem lamenta nada. Conta que, a 24 de Setembro de 1986, conheceu em Londres uma americana que seis dias depois o convenceu a ir consigo a Itália. Tomaram um voo da British Airways. Eram esperados no aeroporto de Roma por um homem, supostamente um amigo da irmã da americana, dirigindo-se para o seu apartamento nos arredores da cidade.

"Mal entrei no apartamento, dois homens agrediram-me e drogaram-me com seringas." Depois, "sob a influência de drogas fui com eles num carro, em que acordei devido a um acidente. Voltaram a agredir-me e a drogar-me." Foi conduzido até à costa italiana onde os esperava um iate.

A sua recordação seguinte é estar dentro do barco, "detido numa célula, amarrado durante sete dias à cama, até atingirmos a costa de Israel, onde fui entregue ao Shin Beth" (segurança interna). Julgado por alta traição, foi condenado a 18 anos de prisão.

Em 1988, o "Sunday Times" identificou a misteriosa americana como sendo Cheryl Bentov, uma agente da Mossad, nascida na América, com família em Orlando (Florida).

As autoridades prisionais israelitas recusaram-se a comentar o modo como Vanunu pôde fazer chegar a carta ao "Maariv".

Fonte: PÚBLICO

terça-feira, 2 de março de 2004

2004

As autoridades israelitas anunciaram que Mordechai Vanunu será libertado dia 21 de Abril, cerca de dois meses antes do final da pena.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2004

2003

13/10 - 49º. aniversário de Vanunu.

30/09 - 17º. Aniversário do rapto ilegal de Vanunu. Foram realizadas acções simbólicas em várias cidades do Mundo: Lisboa, Toronto, Roma, Londres, Boston, Washington, São Francisco, Estocolmo e Hiroshima, entre outras.

14/03 - A campanha norte-americana pela libertação de Vanunu lançou uma petição online apelando à sua libertação.

16/02 - Vanunu vê novamente negado o pedido de liberdade condicional.




31/01- Grupo 19 recebe carta de Vanunu. A folha vem censurada em dois locais (as linhas foram cortadas a X-acto).

21/01 - Vanunu compareceu perante a Comissão de Liberdade Condicional de Beersheba. A decisão foi anunciada a 16 de Fevereiro.

15/01/03 - Vanunu recebeu a vista de Nick e Mary Eoloff, os seus pais adoptivos.