Mordechai Vanunu, o homem que revelou ao mundo os segredos nucleares de Israel, foi hoje libertado da prisão de Shikma, Askhelon (sul de Israel), depois de 18 anos de reclusão.
No decorrer de uma conferência de imprensa improvisada à saída do cárcere, e apesar de várias tentativas dos agentes que o rodeavam para interromper as suas declarações, Vanunu afirmou-se "orgulhoso e contente" por ter revelado os segredos nucleares de Israel e disse que o Estado hebreu "não precisa de armamento nuclear".
Estas são as primeiras declarações públicas de Mordechai Vanunu, depois de ter sido raptado em Roma pela Mossad (serviços secretos israelitas) e levado num cargueiro para a prisão em Israel. Até à manchete do "Sunday Times" de 5 de Outubro de 1986, pouco ou nada se sabia do poderio nuclear israelita. Telavive deu sempre respostas evasivas afirmando que não foi o primeiro produzir ogivas nucleares na região.
À saída da prisão Vanunu, que aparentava boa forma física, acenou e dirigiu-se ao grupo de apoiantes que o esperava no exterior da prisão. Prendeu-se nas grades de um portão e fez sinais de vitória com um ar triunfante.
Odiado pela maioria dos israelitas que o consideram um traidor, mas olhado no estrangeiro como um mártir da causa anti-nuclear, Vanunu foi brindado com flores por uns e apupos por outros. "Morte ao espião, morte a Vanunu", proclamava um cartaz enquanto um israelita gritava: "tu não és judeu! Tu não tens o direito de estar aqui!".
Vanunu, actualmente com 50 anos, converteu-se ao cristianismo na Austrália e mudou o nome para John Crossman. Falando quase sempre em inglês no decorrer de uma atribulada conversa com os jornalistas que o esperavam no exterior, Vanunu apelou ao Governo israelita para abrir o reactor nuclear de Dimona aos inspectores internacionais. "A minha mensagem ao mundo é: abram a central nuclear de Dimona às inspecções".
No meio de uma chuva de perguntas dos jornalistas, Vanunu garantiu que "não tem mais segredos" e que agora quer retomar a sua vida. O antigo técnico de supervisão do Instituto 2 do complexo de Dimona pretende ir para os Estados Unidos, mas Israel não o deve deixar sair do país, pelo menos a curto prazo. O diário israelita "Haaretz" não lhe vão dar passaporte e o seu telefone e comunicações na Internet serão vigiados.
No meio de vários apelos dos agentes que o rodeavam para interromper a conferência, Vanunu denunciou as condições em que estava detido na prisão de Shikma classificando-as como "crueis e bárbaras". "Sofri porque sou cristão, só porque sou cristão", afirmou.
"A todos os que me chamam de traidor, digo-lhes que estou orgulhoso e contente por ter feito o que fiz". Vanunu afirmou que quando sair da prisão quer ir à igreja de S. Jorge, situada na parte Este de Jerusalém, uma deslocação que significa uma violação das restrições impostas à sua liberdade de movimentos.
AFP, PUBLICO.PT
PÚBLICO.PT/Internacional 21-04-2004
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